Atendimento domiciliar: prática freqüente em fisioterapia







Os casos clínicos mais comuns para esse tipo de atendimento são as
doenças incapacitantes que dificultem o transporte do paciente para
uma clínica ou consultório, doenças crônicas que prorroguem o
tratamento por muito tempo e, até mesmo, a comodidade de pacientes e
familiares que optem por realizar o atendimento no conforto de seus
lares.

No atendimento domiciliar o paciente priva-se do convívio social,
perdendo assim a oportunidade da troca de experiências com pessoas que
lidam com problemas semelhantes aos seus, o que muitas vezes é
importantíssimo para a reabilitação.

Um fator primordial tanto para este como para qualquer tipo de
atendimento interpessoal é a empatia do primeiro encontro. Quando isso
não ocorre, não importa o quão gabaritado o profissional seja, o
programa de tratamento não surte os efeitos esperados e o que se
observa é uma estagnação do quadro clínico, ou até mesmo uma regressão
do mesmo.

O fato é que quando essa união terapeuta x paciente está em perfeita
sintonia o atendimento torna-se prazeroso e os resultados observados
são animadores.

A partir do momento em que você adentra a casa dessa pessoa que
necessita dos seus cuidados profissionais você adentra, também, na sua
intimidade. E essa "invasão" vai tornando-se cada vez maior à medida
que o tempo de atendimento vai se alongando.

Passamos a fazer parte da rotina de uma família e muitas vezes
assistimos discussões homéricas tentando fingir que não estamos vendo
e nem ouvindo, prestamos primeiros socorros a acidentes domésticos,
somos consultados sobre a melhor cor para a pintura da casa ou o
melhor tecido para o novo sofá, somos conhecidos até pela prima da tia
que mora em tal lugar e nossa presença é sempre cobrada nas festinhas
familiares. Cabe dizer aqui a importância de saber impor limites
quando percebemos que essa intimidade está colocando em risco a
evolução do tratamento.

Com o transcorrer dos anos de convivência e tratamento passamos de um
mero fisioterapeuta para quase um membro da família e, muitas vezes,
tão querido quanto os próprios familiares. Isto porque, neste tempo
destinado ao atendimento, dispensamos nossa atenção somente para
aquela pessoa que muitas vezes depressiva, passa o dia sozinha ou em
companhia de empregados, enquanto a família, que tem sua vida
profissional, passa o dia trabalhando e quando os membros chegam em
casa, a rotina dos afazeres domésticos torna o tempo escasso para
dispensar toda a atenção que aquela pessoa deseja.

O dia da fisioterapia passa a ser, então, o dia mais esperado da
semana. Não pela ansiedade em fazer os exercícios propostos, mas por
vislumbrar a oportunidade de ter um tempinho em que as atenções serão
destinadas somente à elas.

É o caso de uma senhora encantadora que atendo há 6 anos e está sempre
me esperando para mostrar a toalha de crochê que acabou de fazer, a
roupa nova que ganhou, discutir a notícia que acabou de ler no jornal
ou, simplesmente, para que eu a ouça. E os exercícios vão sendo
mesclados a conversas, deixando-a mais animada. E no final do
atendimento ela diz:

- desculpa por falar tanto mas, quando você vem e me ouve
fica mais fácil resolver os meus problemas e eu fico muito mais calma.

Passamos, também, a ser a pessoa em quem se pode confiar. Talvez por
estarmos acompanhando quase que diariamente a patologia e sua evolução
e estarmos presentes nos momentos mais críticos e também nos mais
estáveis. Muitas vezes somos contatados antes mesmo do médico ou para
dar o nosso parecer sobre a conduta médica.

Posso citar como exemplo, D. Y., uma senhora de 86 anos, muito
simpática e falante que sofreu queda da própria altura e fraturou o
fêmur. Após a cirurgia começou a fazer a reabilitação em casa. Depois
de um mês, quando já estava deambulando com o andador, caiu novamente
e apresentava muita dor sem conseguir se mover. Sua filha me telefonou
e eu orientei que chamasse o resgate para transferi-la ao hospital
para atendimento emergencial. Escutei D. Y. dizer que não deixaria
ninguém tocar nela enquanto eu não chegasse. Demorei mais de uma hora
para chegar até sua casa, já que ela morava em uma cidade vizinha, e
só após a minha chegada o resgate pôde ser acionado e ela transferida
para o hospital. Neste tempo todo, entre a sua queda e a minha
chegada, ela permaneceu deitada no chão do quarto, com dor e muito
assustada, sem que ninguém pudesse fazer nada.

A maior parte dos pacientes atendidos por mim são acometidos de
patologias crônicas, o que impossibilita a alta em curto prazo. O que
dizer de uma relação terapeuta-paciente que dure 10 anos e até mais?
Torna-se impossível manter-se atrelado somente ao aspecto profissional
do atendimento, porque você passa a vivenciar a rotina desses
indivíduos e vários momentos importantes de suas vidas. E, em
contrapartida, eles também passam a fazer parte das nossas vidas, da
nossa rotina... são alegrias, tristezas, angústias e vitórias
compartilhadas. E um se preocupa e vibra com os ganhos e perdas do
outro.

E muitas vezes somos amigos, confidentes, mesclando a reabilitação
física com a palavra de conforto e incentivo capazes de promover
aquela sensação gostosa de saber que se pode contar com alguém. Também
nos beneficiamos, e muito, dessa interação.

A cada paciente atendido, a cada história de vida conhecida, tira-se
uma grande lição que, com certeza, levamos conosco e nos faz crescer
tanto moralmente como profissionalmente.

No balanço final, mais do que terapeutas somos pessoas queridas e,
mais do que pacientes, ganhamos um amigo.



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